domingo

3º Dia

11 / Setembro / 2005
Acomodados numa artéria movimentada da cidade a noite não foi tão repousante como desejaríamos... Os condutores marroquinos desconhecem a proibição de buzinar durante a noite.
Acordamos cedo e saímos ávidos de quilómetros. Na rua passa um vendedor de peixe perseguido por gatos vadios e bonitos. Há muitos gatos em Marrocos. Seguimos em direcção a Chefchaouen por estradas encurvadas e estreitas entre montanhas e vales numa paisagem comparável à paisagem portuguesa (antes dos incêndios se terem tornado rotina). Muitos burros começaram a surgir numa moldura feita de amarelo ocre e verde e agradavelmente notamos a presença de crianças que brincam pelas beiras das estradas, sozinhas ou servindo de companhia de brincadeira para outras, desconhecendo riscos, perigos e medos. Um aceno nosso basta para muitos sorrisos delas. Carroças e crianças de lenços nas cabeças, sujas de lama e de felicidade esboçam em nós um retrocesso de alguns largos anos, ao tempo dos nossos avós, esse que temos semeado na memória pelas muitas histórias que nos foram contando.
Encaixada entre colinas surge Chefchaouen, casas brancas, telhados feitos em linhas horizontais, terraços no lugar da telha. A matrícula estrangeira do automóvel capta atenções e somos abordados prontamente por um habitante que se oferece para nos mostrar a cidade, a quem teremos de pagar 100 dirhams em troca de tão pronta hospitalidade. As ruas feitas de azul e branco (para afugentar os mosquitos e o calor), são estreitas e bonitas. Os corantes vendidos a granel confundem-se na balbúrdia colorida de cada recanto e as praças aglomeram a harmonia e exibem as suas gentes. Vozes de crianças no azul das brincadeiras. O cheiro do pão numa padaria diferente. Iniciamos aqui a nossa incursão no mundo dos tapetes marroquinos… a primeira apresentação de tapetes que se veio a repetir por várias vezes acontece sempre nos mesmos moldes, com arte de um marketing apreendido pela necessidade de vender ao turista. O chá de menta para saborear enquanto se negoceiam preços e gostos, a facilidade de pagamento, o envio para uma qualquer morada se o turista não se quiser incomodar com o peso e o volume do dito… Compra efectuada ficamos sem saber, mesmo depois de ter visto e negociado outros tapetes, se fizemos ou não um bom negócio. Será este um dos mistérios de Marrocos…
Deixamos para trás o simpático casario e embrenhamo-nos numa estrada secundária. A paisagem vai-se modificando. As montanhas tornam-se mais escarpadas, as curvas mais apertadas e a velocidade de andamento mais lenta. Na beira da estrada estranhamos ver tantos acenos e assobios que nos incitam a parar… achamos no início que se tratará apenas da tão popular simpatia do povo marroquino, mas quando nos vemos perseguidos por vários carros que quase nos obrigam a parar percebemos que não deverá ser apenas hospitalidade mas uma persistente tentativa de venda de produtos estupefacientes que crescem abundantemente por estas bandas. Após uns extensos cinquenta quilómetros de acenos negativos e de alguma apreensão conseguimos dissuadir os vendedores…
Até alcançar Ketama, a capital do narcotráfico, as localidades pareciam saídas de um qualquer cenário de guerra… as casas semi-destruidas (ou será semi-construidas?), as estradas de terra, o vaguear vazio e triste de pessoas que surgem do nada a quilómetros de distância de qualquer aglomerado de casas… Com o avançar dos quilómetros a paisagem começa a alterar-se, as povoações aparentam um maior bem-estar, as casas parecem mais confortáveis e sólidas e as pessoas parecem agora felizes contemplando o pôr-do-sol como se de uma terapia se tratasse… A chegada a Fez acontece já noite cerrada e a possibilidade de falar em inglês com os empregados do hotel sabe-nos bem. Encontramos o Hotel Perla e repousamos por lá. Apesar das 3 estrelas deduzimos que o conceito de limpeza difere muito de Portugal para o Reino de Marrocos…

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