quarta-feira

6º Dia



14 / Setembro / 2005
Mohammed acorda-nos de mansinho. O sol nasce também de mansinho. Apercebemo-me agora da imensidão e da beleza escondida pela noite. Fico sem palavras. As dunas estendem-se suavemente até onde o nosso olhar pode absorver. Saltitamos de duna em duna. Deslumbramo-nos em cada passo. O sorriso rasgado acompanha a tentativa de fotografar. Impressiona. Emociona. O deserto não cabe em nenhuma fotografia nem cabe em palavras, por mais extensas que possam ser. O deserto é simplesmente o sítio mais bonito onde já estive! Lembro-me muitas vezes de “O principezinho”. Brinco com as sombras. Escuto a beleza na simplicidade. Guardo. E escuto novamente o silêncio…

Mais duas horas de camelo… a imensidão das dunas e outras caravanas de camelos por companhia. O caminhar saltitante destes animais tornam as dores insuportáveis com o passar do tempo. Estupefacção… do nada corre uma criança que tenta vender uma boneca feita de trapos. Banho e pequeno-almoço tomado, seguimos com Idriss para a viagem de regresso. A visita a um oásis faz-nos distribuir canetas pelas muitas crianças que nos abordam…agradecem-nos muito, ficam contentes com o presente. Estamos de partida e parece que já tenho saudades… Idriss mostra-nos a música tradicional de Marrocos e nós mostramos-lhe o fado. O meu pequeno e frágil veículo volta a ter de se comportar como um jipe…
Seguimos na direcção de Ourzazate. Paramos numa pequena localidade para matar a fome. O empregado do restaurante fala-nos do futebol português, conta-nos que vive no Japão e oferece-se para nos mostrar a vila. Não há turistas. Ao saber que sou farmacêutica encaminha-nos para uma Farmácia Berbere onde somos recebidos carinhosamente pelo farmacêutico… Há lagartos, cobras e outros bichos por ali pendurados, há mil e um frascos e frasquinhos. O farmacêutico também cura com o saber da magia negra e as artes do vodú. De longas barbas brancas o farmacêutico mostra-nos ervas e cheiros, explica-nos para que serve cada uma das plantas que recolhe e possibilita-nos uma experiência hilariante! O passeio encaminha-nos para mais uma mostra de tapetes desta vez numa casa de uma família berbere que os produz. Somos bem recebidos e bem tratados mesmo quando não estamos interessados em fazer compras.
Os quilómetros que se seguem trazem uma tempestade de areia… a visibilidade é mínima! A areia levanta-se em fúria e parece querer varrer tudo quanto apanhe pela frente. O vento acalma e seguimos entre cidades que se misturam com a cor da terra. Recortamos instantes que ficarão. Alcançamos Skoura já de noite e ao procurarmos poiso somos perseguidos por uma motorizada. O seu condutor oferece-nos quarto, jantar e pequeno-almoço por um preço razoável, 250 dirhams. Na mesma casa encontramos duas austríacas e um casal de belgas que foram ali parar da mesma maneira que nós. Perguntam-nos em que língua queremos falar. Conversamos animadamente pela noite fora e em inglês. O chá de menta é servido com pompa e circunstancia. Mapas, guias de viagem e máquinas fotográficas enchem a mesa. Partilhamos aventuras e desejos enquanto se inicia um concerto de música tradicional interpretado pelos donos da casa e por amigos da terra. O cansaço impera e aquilo que pensávamos ser um programa de entretenimento "para turista ver" prova ser um alegre e habitual convívio entre marroquinos que se estende mesmo depois dos turistas adormecerem…

1 comentário:

Paulo Gavino disse...

É tão fascinante as formas que utilizas na narrativa da viajem que só agora vi a primeira fotografia... Para quê ir ao link se já vi, senti, ouvi e cheirei tudo nas tuas palavras.
PARABENS... VOU CONTINUAR